quarta-feira, março 28, 2007

A realidade é mais (inverosímil e) interessante que a ficção I

Sentada numa paragem de autocarro. Um senhor - velho e sem dentes, vestindo uma camisola de criança (pequena, de lã, com um cavalinho, um sol e uma casa) segurando uma pasta de trabalho em cada mão, e vestindo um casaco comprido para a chuva, embora não chova - veio determinado na minha direcção e de umas senhoras velhinhas. Pediu-nos, para nosso espanto, se nós lhe podíamos dar

livros escolares de física, matemática e biologia, tentando-nos convencer que ia voltar a estudar e tentar entrar na universidade “isto é possível, a gente é que tem de se convencer que é possível” foram as suas exactas palavras.

Quando se cansou de falar sem obter conversa saiu do local, como se nada fosse. Imediatamente depois as velhinhas comentaram uma com a outra que não há nada mais infeliz do que perder a cabeça sã. Depois falaram sobre a sua velhice “eu que já estou a chegar ao fim da estrada”, que o pior é a ideia do que seria para os seus netos se “partissem”, que o tempo da juventude delas era muito mais difícil que os dias de hoje “e eles têm tanta coisa mas não sabem estimar nada…”.

Logo a seguir chega o autocarro e levanto-me. Um bando de moças de 16 anos, corre para apanhar o autocarro e uma delas berra estéricamente para outra, que fica para trás, “É assim, uma pessoa estuda mas mesmo assim tem negativa. O mundo vai acabar”
É então que a sua amiga do lado a corrige “não, o mundo já acabou.”