terça-feira, dezembro 19, 2006
















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Entardece no rio, o fiel Cacilheiro aguarda

De olhos e sentidos acordados observo. Todos a bordo, a margem lisboeta antes de partir, sentam-se as pessoas onde escolhem e aguardam,
esperam à sua maneira que a viagem comece
tempo,
Une-nos a travessia conjunta envolta de rio que embala ou desperta, e entra pelas janelas, unimos uma margem à outra. Não se trata de uma viagem vazia/pragmática de transporte publico, não se pode se não ser levado pelo espaço, (quase indissociável das pessoas ), a paisagem impõe-se e acompanha-nos com brandura,
mar, cordas, imagens que conhecemos desde infância, a nossa cidade ao fundo, o baloiçar, serenidade. Contemplamos juntos, humildes perante a beleza do que é oferecido pela janela, mesmo que não o olhemos, a esta altura do dia. O barco faz o seu caminho. Partilhamos o mesmo sentimento, noção da desimportância do tempo, mesmo que sós.

Será para nós, enquanto no barco, chegar ao destino o mais fundamental? É nisso que nos concentramos? Gozamos o caminho. Passageiros do rio.

De repente, num momento efémero e único, a luz viva de fim do dia infiltra-se pelas janelas, ilumina “brincando” com sombras e cores. Cientes ou não o ambiente altera-se. A paisagem de fora confunde-se com a de dentro, mais em tons de amarelo.
Uns olham, outros pensam, deixam o sono os levar, espreitam o fim da viagem sem aparente pressa - tantos destinos, diferentes histórias, estamos perto e longe mas juntos.

O barco, tendo passado pela outra margem, retorna o seu caminho, as janelas são mais que nunca quadros azuis. O sol já não se mostra forte, o dia irá findar, outro certamente virá. Um marinheiro em serviço pára, contudo, e dá a si tempo para vislumbrar a mudança de cores do dia. Atracámos, mas alguém ainda dorme profundamente.

A ponte da cidade, presente, formamos também nós pontes.

Esta viagem termina outra começará, eterno movimento. De volta à realidade do tempo, sem o comentarmos, saímos diferentes, a última viagem da tarde do “cacilheiro” deixa algo em nós. O ultimo momento das pessoas juntas antes de se separarem e irem cada uma à sua vida, é a saída pelo túnel.
Será que a viagem persistirá nelas?

o cacilheiro afasta-se..

1 Comments:

Blogger Peg solo said...

Gostei.

9:08 da tarde  

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