sábado, julho 02, 2005

the emperess of Parede

Esmeralda F. sits opposite us on the train to Parede.
She gives out a giggle, says she don’t like to see men with long hair and beards - «doesn’t he notice how dumb that looks?» (looks at us as to see if we agree ). - "He" means the “pica-man” that just passed by. -

Her own hair is dyed in a greenish yellow..

Esmeralda, alone and independent, a women of today, who understands (and promotes) the changes and the importance of evolution in a country, in society, in our minds (the man looking dumb, it’s her taste talking, got nothing to do with not understanding modern ways, which she does unlike a lot of «old fools who walk this land.») -
This lady is wearing a thin black shirt, with a pattern of big dark red flowers on it, and carries a “muleta”(walking stick?*) with her.
Bearing two front teeth on her lower jaw that seem to dance to the rhythm of her words she moves gently and talks bluntly yet with no anger, like a very old battered and poor former-emperess.
We already love her.
Her face is wrinkled at its most and her eyes are very shinny, you could sink into them.
She is a very old women with a very young heart.

Esmeralda fala connosco: os seus ideais, a sua vida...mas não é um monólogo como podia muito bem ser tendo em conta a sua idade e tudo(e mais tarde apercebemo-nos disso com espanto)...realmente ouve o que temos para dizer e comenta-o, fala connosco com confiança decidida em nós e (ainda que por enquanto sejamos apenas “a juventude”), trata-nos como pessoas iguais.
Fala-nos de San Francisco, - de como atravessar a ponte no nevoeiro e o clima são coisas tão parecidas com as daqui - Fala do dia em que lá chegou, jovem, vinda da “parvalheira” (aka Portugal) e «abri os olhos», «evoluí».
Esmeralda explica-nos como era nessa altura Portugal, onde para se namorar era necessário passar pelas coisas mais incríveis, faze-lo às escondidas, mentir, não se podendo nem passear com um rapaz ou homem de qualquer espécie (ou afinidadde) sozinha pela rua.

E entretanto na Califórnia «vivia-se» davam-se “cocktail parties” e boites, meninos e meninas saíam juntos e divertiam-se a sério. Ao contrário de na "parvalheira", sabiam o que era viver, tal como hoje - disse-nos - a juventude sabe muito muito mais do que é feita a vida do que antigamente. -
A maior parte da sua família passed away – sua mãe « atrasadinha coitada»(mas de quem gostava muito) tinha medo de andar de transportes públicos, muito menos de avião–, refere-se constantemente às suas amigas hoje, as quais convida a passar dias na sua casa da Parede«para não estar completamente só e por causa dos assaltos» com quem vai a Sintra e à praia, com quem ri e discute os problemas sociais quotidianos e a vida que muitas viveram nos Estados Unidos da América na mesma época e que era melhor.
A maneira como fala, ainda que por vezes desmedida e “blunt”, é de uma grande lucidez e “tenderness” interior, e a maneira como se refere a Portugal como “a parvalheira” não é com maldade ou ponta alguma de arrogância, mas como alguém que já pensou muito nas coisas e decidiu, acabou com o tempo por definir e definir certas palavras (provavelmente agora de uso corrente entre as suas amigas, tais como “a parvalheira”.).

- Estamos agora na paragem de Oeiras, levantamo-nos tão embrenhadas na conversa, sem reparar que não é nossa a paragem. Sentamo-nos as quatro de novo. -
A nossa nova amiga nova lembra-nos que o governo em que vivemos, a forma em que vivemos, não pode ser chamada uma democracia e nós concordamos baixinho, consentindo, com a cabeça.
E continua serenamente mas com espírito, sorrindo às vezes com alguma coisa mais parva, e geralmente em sintonia com o que nós pensamos.

Compara Portugal com os Estados Unidos: as oportunidades (e acesso facilitado para os jovens nomeadamente a nível de ensino) e ainda a segurança e a maneira de “date” americana em que as pessoas se vão conhecendo melhor e os homens são mais cavalheiros, ao contrário de em Portugal onde há mais preguiça, os homens têm menos respeito e há o sistema de “não há ponto sem nó”.
Nós falamos das pessoas americanas que conhecemos e das nossas ideias e ela ouve com atenção.

Ri-se quando se lembra dos fatos de banho portugueses da sua época «já viram naquelas fotografias antigas? que ridículo!» e sorri mais.
Quando Esmeralda voltou dos States virou-se para sua mãe e diz que lhe disse «na na na na na..» (para se ver bem tem de se imaginá-la com o dedo indicador para a esquerda e para a direita com um sorriso maroto na cara) «..isto agora vai ser diferente, eu venho diferente e não me vai proibir de nada!».

Saímos as quatro na Parede. A amandine e a sara ajudam-na a caminhar melhor. Está aleijada porque foi vítima de um assalto, «e a polícia apanhou-os?»- nós -
«a polícia apanhou-os?? Eles é que me apanharam a mim!!»
Despedimo-nos em frente à SMUP.

Esmeralda F. diz que gostou muito de falar connosco e parece que sente mesmo as suas palavras. Não só gostou genuinamente de nós com confia ao ponto de me dar o seu nº de para irmos lanchar lá a casa um dia destes, dizendo o seu nome alto para eu escrever «Esmeralda Faria» com um sorriso juvenil na cara.
Nós dizemos que sim (and just for the record: claro que vamos!).

E pronto, é assim, vamos por caminhos diferentes, nós as três sentindo «wow!»
«que incrível, que senhora incrível, e reparaste nisto e não achaste isto? Ya, podes crer..»

2 wonderful people in two days

E. Faria…the world is still yours!

*And ps: We’ll bring cookies..