quinta-feira, junho 23, 2005

Salgado, o corpo e o espírito.

Salgado, o corpo e o espírito.
os berros de gelados e bolas de berlim (dos vendedores, não dos gelados) e de rapazes que -muito queimados e usando terços como acessório - nos transmitem os seu número de telefone. Areia entre os pés, atrás das orelhas, no cabelo, o cabelo mais preto e mais feliz. E o sol a dizer para nos molharmos na água, dizendo que não nos vamos arrepender e que é verão e é assim. E a água fria na brisa geladinha, a dar aqueles arrepios (que custam mas que são os melhores porque custam) e depois somos anfíbios patetas, voltados para a infância a chapinhar e a nadar para longe, mas não muito longe porque é perigoso e o mar impõe respeito. E saímos fresquinhas e sorridentes.

e então é tarde e passou-se um dia e eu visto-me (demasiado tempo para tirar as coisas molhadas e enfiar umas calças) e corro para a estação e perco o comboio. e então conheço 3 Erasmus na mesma situação que me oferecem chocolate e bolachas e me perguntam como se diz "everywhere" em português. Dizem-me eles que vão à boleia para o algarve. E eu despeço-me na parede, sorrisos, "nice meeting you, have a good trip, luck" e corro mais, pela minha querida parede, com os pés a matarem-me com estes chinelos islâmicos, mas completamente nas tintas para isso, corro pelos caminhos que conheço, dizendo "com licença" às pessoas por quem passo a toda a velocidade (tenho aula de acordeon) e chego à minha porta e há um postal da minha tia-avó sueca a dizer que gosta muito de mim.

E o meu prof. de acordeon é moldavo, por isso pontual, por isso já cá não está, então eu sento-me à frente do computador

descalço-me

sorrio

e escrevo isto.
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*e sei que eu,
bem como a noite,
somos ainda crianças